terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Livro: Rebeldes e contestadores 1968: Brasil, França e Alemanha


O ano de 1968 marcou a emergência de movimentos sociais e políticos que tiveram forte impacto e deixaram marcas profundas nos costumes e na cultura política. Esses fatos são analisados em textos de Alain Brossat, Alfredo Sirkis, Daniel Aarão Reis, Flávio Tavares, Frigga Haug, Henri Weber, José Dirceu, Olgária Matos, Vladimir Palmeira, Walnice Galvão, Zuenir Ventura e outros.

Para comemorar os 40 anos do movimento de 1968, a Fundação Perseu Abramo está lançando a segunda edição do livro Rebeldes e contestadores – 1968: Brasil, França e Alemanha [primeira edição publicada em 1999], fruto de um seminário realizado pela Fundação Perseu Abramo em 1998, que reuniu analistas desses três países com o objetivo de realizar uma reflexão sobre as mudanças na cultura e na ação políticas a partir de 1968 e avaliar seu impacto no final do século XX, combinando a discussão da dimensão internacional de 1968 com a análise do acontecido no Brasil.

As opiniões dos participantes desse seminário convergem para descrever o ano de 1968 como um “momento mágico”, quando, simultaneamente, em vários países, tanto no primeiro mundo quanto na periferia do terceiro mundo, multidões ocuparam praças e ruas, levantando sua voz contra o autoritarismo.

Não é fácil explicar como esses movimentos eclodiam ao mesmo tempo em países tão diversos, com estruturas sociais e políticas distintas, com diferentes passados históricos. É certo que, por essas razões, cada país tinha suas peculiaridades. Apesar dessa diversidade, é possível encontrar nesse conjunto vários traços comuns.

Um deles é a forte presença da juventude, especialmente da juventude universitária, considerada – sem diminuir o peso dos movimentos operários e sindicais – o elemento propulsor das manifestações. Com ela aparece o culto do novo, consubstanciado na palavra de ordem da luta contra as “estruturas arcaicas”.

Nessa expressão engloba-se não apenas as amarras institucionais ou dos sistemas políticos ou econômicos, mas tudo que se apresentava como esquema imposto, como o das religiões, o da organização universitária e, até mesmo, o da ciência. Naquele momento, lutava-se contra qualquer obstáculo que impedisse a liberdade da invenção de novas formas de pensar, de sentir e de agir. Em consonância, desenvolvia-se uma tendência hedonista, isto é, que dava ênfase à busca do prazer e do direito à satisfação dos desejos. Com esse mesmo ideário deu-se a adesão dos artistas e dos intelectuais de vanguarda, expressa principalmente nos movimentos de contracultura.

O final do ano de 1968 foi desigual para os diversos países envolvidos. Como exemplo apresentamos dois casos extremos: na França, como nos informa o francês Alain Brossart, houve uma novidade auspiciosa, quando se verificou o término de um movimento revolucionário de tanta relevância por meio de um pacto negociado, sem o costumeiro “banho de sangue”, enquanto no Brasil o final daquele ano marcou, com o AI-5, o início do período mais sangrento da ditadura iniciada em 1964, com a institucionalização da tortura, os assassinatos, as prisões arbitrárias e o banimento de opositores e o recrudescimento de uma censura feroz sobre todas as formas de expressão e de pensamento.

A importância do que aconteceu em 1968 é indiscutível, mas não é fácil definir qual foi o legado desse movimento para as gerações futuras. Há quem o caracterize como uma série de explosões inconseqüentes, quando não irresponsáveis, de uma juventude surgida da sociedade de consumo. O que teria sobrado de 1968 seriam muito mais alguns símbolos dessa sociedade de consumo ou mudanças comportamentais.

No outro extremo, há quem afirme, como Zuenir Ventura, que “(...) não podemos esquecer o legado político, cultural e comportamental de 68. Algumas questões atuais germinaram naqueles tempos: o direito das minorias, a importância da causa feminina, a preocupação ecológica, a ética na política, a necessidade de uma causa, um projeto, uma razão de vida”. E há que lembrar (segundo Walnice Nogueira Galvão) que, nos movimentos de resistência à ditadura dos anos 1970 e 1980, os sobreviventes de 1968 voltaram a lutar, animados pelo mesmo fervor libertário, que não os abandonou apesar de tudo que haviam sofrido nas prisões ou no exílio.

Essa diversidade de opiniões leva-nos a concluir que o enigma do legado de 1968 ainda não está decifrado. Por isso podemos afirmar que os dez anos decorridos desde a primeira edição deste livro não tornaram menos importante a sua leitura.

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